sábado, 28 de novembro de 2009

Teoria para jornalistas


Uma das teorias que mais escutei na época em que frequentei a faculdade de jornalismo era que: o jornalista não pode se envolver com a matéria que vai produzir, tem que ser o mais imparcial possível, e principalmente tem que ser ‘sangue frio’, se for fazer uma matéria de acidente e tiver várias pessoas mortas, sangue escorrendo, tem que ter estômago para suportar, se for cobrir alguma “desgraça”, alguma família necessitada tem que passar a informação, não pode demonstrar sentimentos porque isso influencia na opinião do receptor. Ok, tudo muito fácil na teoria, agora vejamos na prática.

Como não se comover e não mostrar sentimentos quando você é convocado para fazer uma matéria sobre uma menina de dois anos que foi abandonada pela mãe por ter câncer? Como não se envolver quando tem que falar sobre famílias que perderam tudo em uma “tragédia” e não tem onde morar, o que comer, não sabem nem o que fazer? Como falar de adolescentes, de pais e mãe de famílias, ou até mesmo de crianças que morrem nas mãos de bandidos sem se sentir comovido com isso? Com não se indignar ao ter que relatar que uma criança foi violentada fisicamente, sexualmente, psicologicamente, e que muitas vezes essa violência vem dos próprios pais, de pessoas das quais elas confiam e se entregavam de corpo e alma? Como relatar e mostrar as imagens das pessoas que passam fome ou sofrem com doenças na África? Como não se envolver e se manter imparcial com tantos assuntos ‘catastróficos’ do nosso cotidiano?

Um certo dia, não faz muito tempo. Conversando com outros amigos jornalistas, falando sobre esse tipo de matéria, um dos meus amigos começou a chorar, justamente por se lembrar de uma matéria que ele relatou, onde falava de uma garotinha de um ano e quatro meses, que estava abandonada no Hospital de Base. A mãe já tinha abandonado outros três filhos e acabara de entrega-la ao Conselho Tutelar de Porto Velho. O fato era que a criança estava com câncer no fígado, muito debilitada, com muitas dificuldades, em estado grave mesmo. Esse jornalista me relatou que quando o fotografo entrou no quarto, a criança rapidamente escondeu o rosto, com medo, assustada, (sabe-se lá o que passava pela cabeça daquela criança) abandonada ali.

Ele conseguiu fazer a matéria, se segurou, foi sangue frio, no momento não se envolveu com a matéria, como os mestres da academia tanto indicam, mas ao me contar a historia, longe da redação, longe de tudo, ele chorou com pena daquela criança, se lembrando da face daquela criança ali assustada, se comovendo com a situação e lembrando de sua filha que estava longe. Agora me responda você leitor. Você seria sangue frio, ou se comoveria com a cena?

"Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura." (Che Guevara)

________________________________________________________
Quetila Ruiz
Formada em Jornalismo pela Faculdade Interamericana de Porto Velho - Uniron
Cursando Pós-graduação em Gestão e Planejamento Estratégico de Comunicação
Tel: 9914-2858
E-mail e MSN: quets_ruiz@hotmail.com

terça-feira, 24 de novembro de 2009

CineOca


Geógrafo Milton Santos é tema de documentário hoje no CineOca


O premiado documentário “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global visto do lado de Cá”, do cineasta Silvio Tendler, sobre um dos intelectuais mais importantes do Brasil, é atração de hoje no CineOca, às 20h, no Cinesesc Esplanada. O filme premiado em vários festivais faz parte da programação temática de novembro que homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo da batalha pela liberdade dos negros. Todos os filmes exibidos neste mês, em vários aspectos, refletem sobre a consciência negra e os reflexos que a escravidão provocou na cultura brasileira.


No filme desta terça, dia 24, uma entrevista com o geógrafo Milton Santos cinco meses antes de sua morte, que serviu de guia do documentário sobre o desequilíbrio entre o crescimento de países ricos e o afundamento da pobreza em países subdesenvolvidos em decorrência da globalização econômica. O pensador brasileiro do século XX batizou de "globalitarismo" o modo como a abertura econômica internacional conseguiu, entre outros feitos, explorar mão-de-obra escrava.


Aplauso da Crítica

Segundo o professor doutor José Borzacchiello da Silva, da UFC, “Trata-se de um documentário que enaltece a capacidade interpretativa de Milton Santos diante de um mundo em processo acelerado de transformação. Toda a experiência do cineasta se manifesta na universalização da linguagem. Imagem, texto, narração e trilha sonora se entrosam de forma magnífica. Milton era o protótipo do cidadão universal. Essa condição exigia dele uma leitura rigorosa da realidade, que emergia do inconformismo com a dor e a miséria do mundo. Sua forte capacidade de se indignar e de denunciar foi capturada pelas lentes de Sílvio Tendler. Munido do discurso do mestre geógrafo buscado em entrevistas ou em edição de pronunciamentos em eventos, Sílvio faz o contraponto com um cenário em que a globalização mostra toda sua crueldade. O documentário angustia. A gente sofre na seqüência do filme. Milton é duro. Entretanto, ele semeia a crença no futuro. Ele vê a possibilidade de luz no fim do túnel.”


Biografia

O geógrafo baiano Milton Santos acumulou numerosos títulos honoris causa pelo mundo. Foi o único intelectual fora do mundo anglo-saxão a receber, em 1994, o prêmio Vautrin Lud, o “Nobel” da geografia.

Entre os últimos prêmios recebidos por Milton Santos estão o de Homem de Idéias de 1998, oferecido anualmente pelo “Jornal do Brasil” ao intelectual de maior destaque no ano, e o Prêmio Gilberto Freyre de Brasilidade, em 2000, oferecido pelo Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.

Milton Santos escreveu mais de 40 livros, publicados no Brasil, França, Reino Unido, Portugal, Japão e Espanha. Conciliava seu trabalho acadêmico com a participação na Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, da qual fazia parte desde 1991, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano.

Milton Santos buscava tirar a geografia de seu isolamento, agregando contribuições da economia, sociologia e filosofia. Entre suas obras mais importantes estão: “O Centro da Cidade de Salvador” (1959); “A Cidade nos Países Subdesenvolvidos” (1965); “O Espaço Dividido” (1978); “Espaço e Sociedade” (1979); “Espaço e Método” (1985); “A Urbanização Brasileira” (1993); “Por uma outra Globalização” (2000).
Autora e Fonte: Simone Norberto

________________________________________________________
Quetila Ruiz
Formada em Jornalismo pela Faculdade Interamericana de Porto Velho - Uniron
Cursando Pós-graduação em Gestão e Planejamento Estratégico de Comunicação
Tel: 9914-2858
E-mail e MSN: quets_ruiz@hotmail.com