Como não se comover e não mostrar sentimentos quando você é convocado para fazer uma matéria sobre uma menina de dois anos que foi abandonada pela mãe por ter câncer? Como não se envolver quando tem que falar sobre famílias que perderam tudo em uma “tragédia” e não tem onde morar, o que comer, não sabem nem o que fazer? Como falar de adolescentes, de pais e mãe de famílias, ou até mesmo de crianças que morrem nas mãos de bandidos sem se sentir comovido com isso? Com não se indignar ao ter que relatar que uma criança foi violentada fisicamente, sexualmente, psicologicamente, e que muitas vezes essa violência vem dos próprios pais, de pessoas das quais elas confiam e se entregavam de corpo e alma? Como relatar e mostrar as imagens das pessoas que passam fome ou sofrem com doenças na África? Como não se envolver e se manter imparcial com tantos assuntos ‘catastróficos’ do nosso cotidiano?
Um certo dia, não faz muito tempo. Conversando com outros amigos jornalistas, falando sobre esse tipo de matéria, um dos meus amigos começou a chorar, justamente por se lembrar de uma matéria que ele relatou, onde falava de uma garotinha de um ano e quatro meses, que estava abandonada no Hospital de Base. A mãe já tinha abandonado outros três filhos e acabara de entrega-la ao Conselho Tutelar de Porto Velho. O fato era que a criança estava com câncer no fígado, muito debilitada, com muitas dificuldades, em estado grave mesmo. Esse jornalista me relatou que quando o fotografo entrou no quarto, a criança rapidamente escondeu o rosto, com medo, assustada, (sabe-se lá o que passava pela cabeça daquela criança) abandonada ali.
Ele conseguiu fazer a matéria, se segurou, foi sangue frio, no momento não se envolveu com a matéria, como os mestres da academia tanto indicam, mas ao me contar a historia, longe da redação, longe de tudo, ele chorou com pena daquela criança, se lembrando da face daquela criança ali assustada, se comovendo com a situação e lembrando de sua filha que estava longe. Agora me responda você leitor. Você seria sangue frio, ou se comoveria com a cena?
"Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura." (Che Guevara)
Quetila Ruiz
Formada em Jornalismo pela Faculdade Interamericana de Porto Velho - Uniron
Cursando Pós-graduação em Gestão e Planejamento Estratégico de Comunicação
Tel: 9914-2858
E-mail e MSN: quets_ruiz@hotmail.com