quarta-feira, 7 de abril de 2010

Bairro vira praça de combate

Esta matéria foi publicada no jornal "O Estadão do Norte", do dia 07.04.10

Conflito entre policiais e famílias nos Bairro Aponiã e Roberto Sobrinho


Por volta das 10h, desta terça-feira, 06, os moradores dos bairros Aponiã e Roberto Sobrinho entraram em confronto com a Policia Militar – PM e o Comando de Operações Especiais - COE, para impedir a ordem de despejo das casas construídas em área pertencente às empresas Cerâmica Rondônia e Imobiliária Solo. Gás de pimenta, tiros de borracha, bombas, cassetetes, entre diversos outros aparatos foram utilizados pela PM.
Moradores feridos, crianças machucadas, deficientes físicos agredidos, moradores chorando, esse era o cenário da desocupação. “Eu não fui avisado que ia ser despejado, eu só pedi pros policiais esperarem um pouco que eu ia tirar as minhas coisas e eles me bateram, deram com o cassetete justamente na minha perna que tem problema, vou perder a minha casa, vou perder as minhas coisas e ainda apanho por isso”, disse Ataíde Firmino da Silva, integrante da Federação dos Deficientes Físicos de Rondônia – Feder.
“Jogaram gás de pimenta nas crianças, a minha filha está sufocada, com os olhos ardendo por causa do gás. Atiraram essas balas de borracha nos idosos, nas crianças. Ninguém estava resistindo, estava todo mundo pedindo um prazo para tirar as coisas de dentro das casas, os policiais já começaram com violência, batendo e atirando em todo mundo”, relatou Maria da Conceição, autônoma.
O deputado estadual Euclides Maciel (PSDB) foi baleado na perna esquerda, por uma bala de borracha, durante confronto entre o confronto. Ele estava no local acompanhando a movimentação e tentava dialogo quando foi atingido por uma bala de borracha. “Eu estava justamente no telefone com a Coronel Angelina, tentando negociar como juiz pro pessoal ficar, quando eu vi era os policiais atirando nas crianças, atirando em mim, atirando em todo mundo. Eles não respeitam ninguém, era só pra esperar mais um pouco e eles já chegaram com violência”, desabafou o deputado enquanto era levado as pressas para atendimento médico.
Já o vereador Eduardo Rodrigues (PV), eleito presidente da Câmara Municipal a partir do próximo ano foi preso. “Ele não fez nada, na hora que ele já estava indo embora, outros policiais deram voz de prisão. Disseram que ele tinha desacatado autoridade, algemaram sem necessidade. Isso é abuso de autoridade, eles empurraram os vereadores que só estavam tentando fazer a negociação. Se tiver que ir em Brasília, o que for preciso fazer nós vamos fazer pra resolver essa situação. A PM está despreparada para esse tipo de ação”, contou aa vereadora Mariana Carvalho (PSDB).

Até o prefeito tentou ajudar nas negociações
Os moradores relatam que todos os vereadores e o prefeito estavam ajudando nas negociações, mas a PM não esperou e resolveu prosseguir com a desocupação. “O prefeito Roberto Sobrinho e os vereadores estavam tentando negociar com as empresas donas das terras para gente ficar aqui, os vereadores estavam no telefone falando com o prefeito, fazendo a negociação, foi quando começou o ataque da PM. Até os vereadores que estavam aqui foram levados embora, agredidos. O único problema é que o juiz não quer ceder, todo mundo ajudou, até o prefeito que a gente pensava que ia dar pra traz também ajudou, mas o juiz não quis fazer nada, cruzou os braços e deu causa favorável pro pessoal da cerâmica, ai deu no que deu, essa briga toda”, relatou outro morador.
As famílias já estão na localidade a mais de três anos, pagando conta de água e luz. “Já pagamos água, luz, telefone. O Roberto Sobrinho veio aqui, disse que a gente podia investir, que não ia ter problema, e agora essa construtora quer tomar as nossas terras. A empresa da cerâmica está brigando por um terreno que não é deles. Eles ficam tirando barro daqui pra fazer cerâmica e a gente em cima eles não podem lucrar, e agora conseguiram isso na justiça, mas é todo mundo comprado, inclusive o juiz”, desabafou outra moradora.
O Projeto de Lei 2.647/2010, aprovado nesta segunda-feira, 05, pela Câmara de Vereadores, que desapropria áreas de terras urbanas atualmente integrantes da área de expansão urbana de Porto Velho, abrange apenas as famílias que construíram casas no espaço não pertencentes às referidas empresas. De acordo com o vereador Hermínio Coelho (PT), o Incra havia cedido a terra para os empresários com uma finalidade, mas eles não cumpriram o acordo, e com isso as famílias foram autorizadas a morar na localidade. “Nem na época da Ditadura eu vi isso. Hoje o Lula é o nosso presidente, e o Roberto Sobrinho é o nosso prefeito, em uma administração nossa isso não poderia estar acontecendo. Uma brutalidade política dessas. Eduardo preso, Euclides Maciel baleado, eu fui atirado no chão, isso é um absurdo”, desabafou Hermínio.

Demolição deixa os moradores desolados
Por volta das 11h, a Policia Militar iniciou a desocupação das residências e demolição. “Eles tiraram tudo de dentro da minha casa, colocaram em um caminhão, que eu não sei pra onde vai e derrubaram a minha casa. Eu não sei o que vou fazer. Não tenho dinheiro, não tenho pra onde ir, derrubaram a minha casa, passaram com o trator por cima. Ninguém me avisou que eu tinha que sair, nenhum oficial de justiça veio aqui falar pra mim sair, só apareceu agora pra derrubar a minha casa”, relatou, chorando, o morador Alan.
“O Fernando, o tal que se diz dono daqui passou aqui rindo da minha cara, debochando de todo mundo. Eles pegaram tudo que tinha dentro da minha casa e jogaram em um caminhão. E agora pra onde eu vou, o que eu vou fazer com os meus filhos, estou perdida”, relatou Laiane das Graças Silva, autônoma.

Armas
Na operação de desocupação, um dos moradores foi preso em flagrante por porte ilegal de arma. De acordo com informações da PM, o morador estava portando uma espingarda calibre 32. Também foram achados, em algumas residências, outras espécies de munições como para revolver calibre 38.

Entenda o caso
As famílias já ocupam a área, Lote 55, desde o ano de 2007, em agosto de 2008, quando lhes foi determinado que desocupassem a área, em cumprimento de Mandado de Cumprimento de Liminar de Reintegração de Posse, favorecendo a referida empresa, Cerâmica Porto Velho, -- conforme decisão judicial proferida nos autos do Processo nº 001.2004.01085-9. Revoltados, os moradores reagiram: atearam fogo em pneus, bloqueando a estrada que dá acesso aos presídios da Capital. A manifestação ocorreu por volta das 22 horas do dia 19 daquele mês de agosto – mas, não serviu para evitar a retirada das famílias no dia seguinte, através da Polícia Militar.
As famílias voltaram a ocupar a área, acarretando esse nova desocupação. O local está situado na área da confluência da avenida Imigrantes e avenida Mamoré. Mais de 500 famílias residiam no local.

Alguns policiais se preparando para a ação,
outros impedindo a passagem da população e da imprensa,
outros correndo para ajudar na retirada dos moradores.





A Eletrobras foi chamada para desligar a energia das casas,
para que os tratores pudessem derrubar sem maiores problemas



Caminhão levando o trator que foi usado na ação de desocupação
e demolição das casas construídas na área da cerâmica


Ataíde Firmino da Silva, integrante da Federação dos
Deficientes Físicos de Rondônia – Feder, mostrando a agreção
que sofreu por parte da PM e da COE




Tratores para derrubar as casas, pessoas contratadas para
retirar qualquer objeto de dentro das casas destruídas
e ao fundo da foto fumaça de pneus queimados e alguns policiais
na ação de retirada, que resultou em balas de borracha, gás de pimenta
entre diversas outros aparatos dos policiais




Esse policial chamou a imprensa que estava no local
para mostrar munições que possivelmente estaria
dentro de uma das residências que foram demolidas


Policiais fortemente armados para combater os manifestantes


Deputado Euclides Maciel explicando como foi baleado


Um dos moradores que estava participando da manifestação
mostrando as cápsulas dos armamentos que a PM e COE
estavam usando contra os moradores




Trabalhadores contratados para desocupar as casas que
foram demolidas no bairro Roberto Sobrinho


Mais PMs armados para combater os moradores que
manifestavam contra a retirada e demolição de suas residências




Vereador Eduardo Rodrigues sendo preso pela PM



Trator demolindo as residências


Enquanto o vereador Eduardo Rodrigues era preso o vereador
Herminio Coelho juntamente com outros vereadores e manifestantes
tentaram impedir a prisão se jogando em frente da viatura
e terminaram sendo derrubados pelos policiais




Prisão de um dos manifestantes





Mais demolição



Vários pertences dos moradores permaneceram no meio da rua


Mais confusão




Resto das munições usadas pelos policiais (gás de pimenta)




Ao terminar a 'briga' entre moradores e policias a COE retira a
sua tropa e a PM permanece no local para possiveis manifestações
e os moradores comemoram a retirada da COE







Texto e fotos: Quetila Ruiz
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Quetila Ruiz
Formada em Jornalismo pela Faculdade Interamericana de Porto Velho - Uniron
Cursando Pós-graduação em Gestão e Planejamento Estratégico de Comunicação
Tel: 9914-2858
E-mail e MSN: quets_ruiz@hotmail.com

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