sábado, 13 de março de 2010

Desigualdade


Texto escrito para a coluna "Agenda do Repórter", do jornal 'Estadão do Norte'. A coluna é diária, mas os textos escritos por mim, saem apenas nas sextas-feiras.

Publicação - O Estadão do Norte - Edição do dia 05/02/10.

Desigualdade

Em um dia normal de trabalho fui a um órgão publico coletar algumas informações, identificada com meu crachá. Chegando lá identifiquei-me como é de rotina efui muito bem tratada por todos que trabalham lá. Consegui colher todas as informações necessárias e outras mais. Voltei a recepção e sentei em um dos sofás para esperar o motorista do jornal, isso já eram dez horas da manha.
Já estava ali há dez minutos sentada esperando, quando entra no ‘órgão publico’ uma criança, deveria ter uns 11 anos, estava com uma bacia na cabeça e uma caixa de isopor nos braços cheia de biscoitos para vender, uma destreza que garanto, eu não teria para carregar tantas coisas.
Entrou e ofereceu para as atendentes que estavam por lá, nenhuma comprou os produtos. Era visível a decepção por não vender nada e o cansaço no rosto do garoto, ele com toda educação perguntou a uma das atendentes se ela poderia, “por favor”, lhe dar um copo de água, ela muito educada disse que sim e foi buscar, e nesse instante o guarda de segurança, virou-se irritadíssimo para a outra recepcionista e perguntou o que era aquilo, gritando na recepção questionando se era permitido qualquer um ficar ali pedindo água, que aquilo não era local para isso, etc, etc, etc.
A recepcionista com toda calma tentou explicar que era apenas um copo de água para uma criança e que o garoto já estava indo embora, também tentou explicar ao segurança que aquele era um ‘estabelecimento publico’, mas o senhor continuou brigando com ela, falando que tudo isso era uma bagunça, um menino sujo ali na recepção, que ali não era lugar de ninguém ficar esperando nada.
Ele mesmo já havia deixado várias pessoas entrar no local sem identificação, e pelo que vi também não tinham crachá de funcionários do local, outros eram obrigados a passar pelo detector de metais, mesmo tendo o crachá de funcionários. Eu mesma já estava ali a um bom tempo, sentada no sofá esperando o motorista do jornal e ele não tinha falado nada, não diretamente pra mim, mas no argumento para o garoto de que ali não era lugar de ninguém ficar esperando nada, me senti incluída.
Como será que ele classifica as pessoas? Será que ele estava pensando em brigar comigo também (como estava fazendo com a recepcionista, e na frente da criança, que via-se, já estava arrependido de ter pedido um copo de água) por eu estar ali esperando?

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Quetila Ruiz
Formada em Jornalismo pela Faculdade Interamericana de Porto Velho - Uniron
Cursando Pós-graduação em Gestão e Planejamento Estratégico de Comunicação
Tel: 9914-2858
E-mail e MSN: quets_ruiz@hotmail.com

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